Algo passa assobiando pela minha casa às 03:03am

Toda noite, não importa o clima, algo caminha pela nossa rua assobiando baixinho. Você pode ouvi-lo se estiver na sala ou na cozinha quando ele estiver passando e sempre começa exatamente às 03:03. O som é fraco no inicio, em algum lugar perto da faixa, perto da casa dos Carson. Estamos no meio da rua, então o assobio passa por nós antes de desaparecer na direção do beco sem saída.

Quando eu era mais novo, minha irmã e eu íamos esgueirar na cozinha algumas noites para ouvir. Mamãe e papai não gostavam disso e nós estaríamos encrencados se fossemos encontrados lá fora, mas nunca foram muito duros conosco, já que sempre seguíamos a única regra.

“Não tente olhar para o que esta assobiando”

Meu bairro é um lugar engraçado. Eu moro aqui desde os seis anos e adoro isso. As casas são pequenas mas bem conservadas, jardas de bom tamanho, muitos lugares para passear. Há muitas outras crianças aqui na minha cidade, eu completei 13 anos em outubro. Nós crescemos juntos e sempre brincávamos no beco sem saída ou passeávamos de varanda em varanda no verão. Este era um bom lugar para crescer, tenho idade suficiente para vê-lo. E só preciso de duas coisas por aqui; a coisa assobiando à noite e sorte.

O assobio nunca me incomodou muito. Como eu disse, eu não conseguia ouvir do meu quarto. Mas mamãe e papai não gostam de falar sobre isso. Então parei de fazer perguntas. Meu pai é um cara forte, alto e calmo. Ele tem sotaque desde que mudou para os EUA quando criança. A família dele, meus avós, é das ilhas. É assim que eles chamam. Meu pai, a única vez que ele não fica calmo é se o assobiador aparecer.

Ele fala pouco mais rápido, então, os olhos se movem mais rápido e ele nos diz para não pensar muito sobre isso e sempre a nos lembra da única regra, a grande regra: Não tente olhar para o assobiador quando ele passar.

Não que pudéssemos olhar mesmo se quiséssemos. Veja, existem persianas no interior de todas as janelas, pedaços grossos de lona pesada que se abrem da parte superior e travam até a parte inferior da moldura da janela. Cada trava tem até uma pequena trava, aproximadamente do tamanho do que você encontraria em um diário. Meu pai trava as persianas todas as noites antes de irmos para cama e mantem a chave no quarto.

Minha mãe... Eu não sei o que ela pensa sobre o assobio. Eu a vi na sala antes das 03:03 quando o som começa; Eu poderia vê-la se abrisse minha porta apenas uma polegada para espiar. Ela não fica lá com frequência, pelo menos eu não peguei muito, mas uma ou duas vezes por mês eu acho que ela fica sentada no nosso grande sofá vermelho apenas ouvindo.

O assobiador tem a mesma musica todas noites. É alegre.

[assobio]

Lembra como eu disse que existem duas coisas estranhas sobre onde eu moro? Bem, além do nosso assobiador noturno, todo mundo no bairro tem muita sorte. É difícil de explicar e papai também não gosta que falemos sobre essa parte, mas coisas boas parecem acontecer muito com as pessoas por aqui. Geralmente, são pequenas coisas, ganhar um concurso de rádio ou conseguir uma promoção inesperada no trabalho, ou encontrar algumas pontas de flechas enterradas no quintal, você sabe, do tipo autentico que vale muito dinheiro.

O tempo está bom e não há crime, e os jardins de todos florescem muito mais no outono. “Um milhão de pequenas bênçãos”, ouvi minha mãe dizer sobre viver aqui. Mas a principal razão pela qual ficamos aqui, porque nos mudamos para cá em primeiro lugar foi minha irmã Lola. Ela nasceu muito doente, com algo nos pulmões. Não podíamos nem traze-la para casa quando ela nasceu, apenas visita-la no hospital. Ela era tão pequena, eu me lembro, pequena mesmo em comparação com outros bebês. Uma maquina tinha que respirar por ela.

Nós nos mudamos para nossa casa aqui para ficar mais perto do hospital. Assim que nos mudamos, Lola começou a melhorar. Os médicos não conseguiram descobrir, eles atribuíram o que quer que estivessem fazendo, mas todos podíamos dizer que eles estavam confusos. Meus pais sabiam, até eu sabia porque Lola estava melhorando, era apenas mais uma das milhares de bênçãos que recebemos por viver em nosso bairro.

É por isso que ficamos neste lugar mesmo depois do nosso pequeno milagre que acontece por aqui todos os dias, e de vez em quando... algumas coisas ruins acontecem. Mas eles só acontecem se você procurar o assobiador.

Veja, nosso bairro tem um comitê de boas vindas. Eles aparecem com caçarola de macarrão e uma cesta de presentes e uma pasta de papel pardo sempre que alguém se muda. Eles são muito amigáveis. Quatro pessoas apareceram quando nos mudamos há sete anos. O Comitê conversou um pouco, me deu uma barra de Snikers e revezaram segurando Lola. Foi na sua primeira semana fora do hospital, então eles foram extremamente cuidadosos.

Então, o comitê pediu para falar com meus pais em particular, então fui enviado para meu quarto, onde ainda conseguia ouvir quase todas as palavras. O comitê de boas vindas contou a meus pais o quão bom o bairro era, realmente excepcionamte, difícil de explicar. E então contaram aos meus pais o assobio, ainda mais difícil de explicar que acontecia todas as madrugadas às 03:03 e terminava às 03:05. O grupo, nossos novos vizinhos, avisou meus pais que o assobio era silencioso, nunca iria nos prejudicar ou nos machucar, desde que não procurássemos o que estava emitindo o som.

Nesta parte eu empurrei meu ouvido na porta, tentando ouvi-los. As sorte mudava drasticamente para aqueles que procuravam o assobiador, às vezes drasticamente. Uma nuvem negra pairava sobre qualquer um que olhasse. Qualquer coisa que pudesse dar errado, daria. O envelope de papel pardo que o comitê trouxe continha recortes de jornais, histórias sobre acidentes de carro, vidas arruinadas, mortes em publico e acidentes estranhos.

“Nem todo mundo morre”, ouvi o chefe do comitê dizer ao meu pai, “mas a vida acaba com eles. Mesmo que eles vivam, nunca mais haverá luz neles, nem presença”

Eu poderia dizer que minha mãe não estava levando isso a serio. Ela ficava perguntando se isso era alguma brincadeira que eles contavam aos novos vizinhos. Em dado momento, minha mãe ficou com raiva, acusou o comitê de tentar assusta-los para fora da nova vizinhança, perguntou se eles eram racistas por causa do meu pai ser das ilhas. Meu pai acamou ela, disse que ele achava que os vizinhos estavam sendo sinceros e que estavam apenas tentando ajudar. Ele explicou que cresceu ouvindo esse tipo de história de sua mãe e sabia que havia coisas estranhas entre nós. Algumas dessas coisas estranhas eram boas e outras ruins, mas a maioria era apenas “diferente”.

Depois que o comitê saiu, meu pai foi à loja de ferragens comprou cortinas de lona, as travas e fechaduras e as instalou em todas as janelas da casa depois do jantar. Naquela primeira noite em nossa nova casa, saí do meu quarto ás três da manha, apenas para encontrar meu pai acordado sentado no sofá da sala, segurando minha irmãzinha. Meu pai levantou o dedo em um movimento “shh” e bateu no sofá para me sentar ao lado dele. Eu sentei e esperamos.

Exatamente às 03:03, ouvimos o assobio.

[assobio]

Ele veio e foi exatamente como nossos vizinhos disseram. O assobio volta a cada noite e nunca olhamos apenas desfrutamos das milhares de pequenas bênçãos todos os dias. Lola respira sozinha e cresceu se tornando uma garota forte e inteligente. Meu pai até se juntou ao comitê de boas vindas. Não temos novos vizinhos frequentemente, porque alguém iria querer sair daqui? Mas quando uma nova família se muda, meu pai e o comitê trazem a caçarola de macarrão, uma cesta de presentes e a pasta de papel pardo. Eu sempre posso dizer pelo olhar no rosto de meu pai quando ele volta se a família levou o comitê a serio ou se estaríamos recebendo novos vizinhos em breve.

Há pouco tempo, uma família se mudou diretamente ao nosso lado. A dona anterior, Maddie, faleceu aos 105 anos. Ela viveu bem sua longa vida. Nossos novos vizinhos pareciam se encaixar muito bem. Eles acreditaram no comitê de boas vindas, seguiam o conselho de meu pai sobre as persianas, já que eles tinham um filho pequeno. Quaisquer que fossem os recortes de jornal naquele envelope de papel pardo, qualquer evidencia meu pai nunca me deixou ver. Mas imagino que deve ter sido muito convincente desde que nossos vizinhos se deram bem e sem problemas durante o primeiro mês.

Uma noite, quando nossos novos vizinhos tiveram que deixar a cidade, eles enviaram seu filho, Holden, para ficar conosco. Ele tinha 12 anos, um anos abaixo de mim na escola. Eu não o conhecia muito bem antes daquela noite, mas assim que seus pais o deixaram depois do jantar, eu percebi que seria um momento ruim.

- Você sabe quem está sempre lá fora assobiando todas as madrugadas? – Holden perguntou no momento em que os adultos deixaram a sala.

Nós três estávamos sentados na sala, algum filme da Disney exibia na televisão.

Minha irmã e eu trocamos um olhar. – Nós não falamos sobre isso – Eu disse.

- Eu acho que é aquele esquisito que mora na grande casa amarela na esquina – Disse Holden.

- Sr. Torres? – Minha irmã perguntou – De jeito nenhum, ele é muito legal.

Holden encolheu os ombros – Então deve ser um assassino ou psicopata.

Lola ficou tensa.

- Nós não falamos sobre isso – Eu repeti – Vamos no meu quarto jogar Nintendo?

Passamos as próximas horas jogando, comendo pipoca e depois assistindo filmes. Uma festa do pijama típica, mas eu pude ver que Holden estava ficando nervoso.

Depois que meus pais nos desejaram boa noite, trancaram as persianas e foram para cama, Holden levantou-se do saco de dormir e caminhou até onde Lola e eu estávamos sentados na minha cama.

- Você já tentou olhar? – Ele perguntou – Está quase na hora.

Como a maioria das festas do pijama, ignoramos convincentemente qualquer sugestão da hora de dormir. Fiquei chocado ao ver que ele estava certo; era quase 03 da manhã.

Suspirei – Nós não...

- Veja, eu não posso, eu não posso tentar olhar, porque meu pai fecha as cortinas todas as noites e esconde a chave – Continuou ele me ignorando.

- O mesmo acontece com nosso pai – Disse Lola.

- Não – respondeu Holden – Ele não esconde a chave.

- Você viu ele fazendo isso – Eu disse, um pouco mais afiado do que pretendia parecer.

Holden sorriu – Seu pai tranca as cortinas, sim, mas ele não esconde a chave. Ele mantem no chaveiro normal.

- Então? – Eu perguntei preocupado, já sabia o que ele diria a seguir. Porque eu tinha notado que meu pai não se incomodava de esconder a chave depois de todos esses anos. Porque ele sabia que nós levamos isso a serio.

- Então, depois que seu pai trancou, mas antes deles irem para cama, eu fui ao banheiro. E no meu caminho, posso ter entrado no quarto deles e ter visto as chaves do seu pai na mesinha de cabeceira. E talvez eu possa ter pego emprestado uma das chaves.

Lola e eu nos entreolhamos e seu sorriso só aumentou.

- Você está mentindo – eu disse.

Holden encolheu os ombros – Você pode verificar se quiser. Apenas abra a porta e veja, você verá o chaveiro dele ali mesmo na mesa de cabeceira.

- Fiquem aqui – Eu aos dois – Não façam nenhum barulho.

Corri para o quarto do meus pais, mas hesitei na porte. Se Holden não estivesse mentindo, meu pai ficaria bravo. Além de zangado. Eu estava com medo de pensar nisso. Mas mais medo de uma janela aberta do que o assobiado do lado de fora. Abri a porta, apenas um centímetro e olhei para dentro, mas estava escuro demais para ver. Respirando fundo entrei no quarto,

Dois passos no escuro e eu congelei. O assobio começou. Eu podia ouvir claramente, do quarto dos meus pais. Eu nunca percebi, mas eles devem ter ouvido o som todas as noites desde que nos mudamos para cá. Eles nunca nos disseram isso. Acho que não consegui dormir com isso.

Eu fiquei lá, ouvindo o assobio se aproximar, sem saber se deveria acender a luz ou chamar meu pai. Sons suaves da sala me trouxeram de volta a realidade.

- Lola – eu gritei, correndo para fora do quarto dos meus pais.

Holden e Lola estavam de pé perto da porta da frente, ao lado de uma janela. Holden não estava mentindo. Eu podia vê-lo mexendo na fechadura de duas persianas. Eu ouvi um clique. Ele tinha destrancado.

Holden soltou uma risada rápida. Lola ficou ao lado dele, curvada, com medo, mas talvez curiosa. O assobio estava ao lado de fora de nossa casa agora.

Eu acho que fiz algum som, não lembro se gritei. O tempo parecia congelado, ponteiros do relógio pregados no rosto. Mas eu me vi em movimento. Não sou rápido, nunca fui atlético. De alguma forma, porém, cobri o espaço entre eu e Lola em um momento. Meus olhos estavam fixos nela, mas ouvi Holden puxar a cortina para baixo para que ela pudesse se soltar. Ouvi o estalo começando a aumentar e ouvi o assobio do outro lado da janela.

Mas eu tinha meus braços em volta de Lola e a virei para que ela ficasse de costas para janela. Ao mesmo tempo, fechei os olhos com força. A cortina se abriu.

O assobio parou.

Eu senti Lola tremendo em meus braços.

- Não olhe, ok? – Eu disse a ela – não se vire.

Estávamos posicionados de modo que ela estava voltada para o corredor e eu estava na frente da janela. Meus olhos ainda estavam fechados. Eu a senti acenar no meu ombro.

Estendi a mão com o braço livre e tentei alcançar Holden. Minha mão roçou seu braço. Ele estava tremendo pior do que Lola.

- Holden? – Eu perguntei.

Apenas silencio.

Passei por ele e cuidadosamente senti a janela, com os olhos ainda fechados. Meu corpo estava frio contra as pontas dos meus dedos. Mais frio do que deveria estar para aquela época do ano. Movi minha mão pela janela, procurando a corda. Começou a ficar mais quente e medida que eu chegava e havia um zumbido suave retornando na ponta dos meus dedos. Tentei não pensar no que poderia estar do outro lado da janela. Por fim, toquei a corda e fechei as cortinas.

Eu abri meus olhos. Na fraca luz que vazava da cozinha, pude ver Holden, pálido e pequeno, olhando ainda para a janela fechada.

- Holden? – Perguntei novamente.

Ele se virou para mim e gritou.

Tudo se tornou uma onda de movimento. As luzes piscaram no corredor, depois na sala de estar. Os passos dos meus pais bateram no chão de madeira. Não me virei para olha-los, meus olhos estavam colados a Holden.

- O que aconteceu? – Meu pai perguntou através de mim.

Consegui me afastar de Holden e olhar para trás – Ele olhou lá fora.

Eu nunca tinha visto meu pai assustado antes, mas vi naquela noite, naquele momento, um terror velho e feio costurando seu rosto. O medo dos pais.

- Apenas Holden? – Ele murmurou para mim.

Eu assenti que sim.

Meu pai soltou um suspiro. Ele parecia tão aliviado que eu quase esperava que ele aplaudisse. Mas então ele se virou para Holden e o rosto do meu pai mudou. Eu me perguntei se ele se sentia mal por se sentir bem por Holden ser o único que viu.

Então houve uma batida na porta.

Todos nós congelamos. Holden choramingou.

- Fiquem em silencio – Minha mãe disse.

Ela ficou no limiar do corredor. Eu sempre pensei que ela era cética e apenas humorou meu pai sobre as janelas e o assobiador, mas naquela noite todos nós éramos crentes; Percebi que meus pais trouxeram tacos de beisebol que devia estar no quarto deles.

A batida veio novamente, um pouco mais alto desta vez.

- Por favor não abram a porta – Holden sussurrou.

Meu pai foi até ele e o abraçou de perto.

- Não vamos – Meu pai prometeu, ainda segurando seu bastão – nada vai entrar aqui está noite.

[batidas]

- Chame a policia – Minha mãe sussurrou para meu pai.

As batidas pararam instantaneamente. Meu pai olhou por cima do ombro para nós.

- Você acha que...

Ele foi cortado por uma batida frenética que resultou em uma forma educada.

- Policia – Alguém disse do outro lado da porta.

A voz de fora soou exatamente como a minha mãe. Como um papagaio repetindo as palavras de volta para ela.

- Policia, chame. A policia.

Minha mãe nos puxou para mais perto;

- Policia. Policia. Policia. Policia.

- Por favor, pare – Eu ouvi ela sussurrar par si mesma.

- Eu não acho que ligar para eles vai ajudar – Disse meu pai – Como saberemos quando eles estarão na porta?

A batida voltou mais forte do que antes. A porta tremeu. Então parou. Depois de um longo momento, ouvi as batidas novamente, mas estavam cindo da nossa porta dos fundos.

Todos nos viramos para a porta dos fundos, mas as batidas retornaram imediatamente para porta da frente. Fortes barulhos na porta dos fundos, e da frente, da frente e dos fundos. De repente o som vinha das duas portas ao mesmo tempo, golpes grandes e pesados como uma marreta. Então algo começou a bater contra todas as janelas de casa, depois as paredes. Era como se estivéssemos vivendo dentro de um tambor com uma dúzia de pessoas tentando tocar ao mesmo tempo. Ou éramos uma tartaruga e algo estava tentando nos arrancar de nossa concha.

- Pare! – Holden gritou.

As batidas pararam!

- Eu não vou contar – Disse Holden olhando para porta – Prometo não contar a ninguém o que vi. Por favor, apenas vá embora.

Esperamos quase um minuto. Então nós ouvimos um toque suave vindo da janela que Holden tinha aberto.

Holden começou a chorar, soluçando como um prisioneiro assistindo sua forca sendo construída do lado de fora da cela.

Meu pai o segurou, escovou seus cabelos, mas nunca mentiu para ele, nunca disse que as coisas ficariam bem.

A batidas na janela continuaram pelo resto da noite. Nós nos amontoamos na sala por não saber quanto tempo. Eventualmente, minha mãe tentou levar as crianças para meu quarto enquanto meu pai ficava de olho na porta. Mas no segundo em que entramos no meu quarto, as batidas voltaram, tão alto que era impossível ignorar. Eu estava com medo que a porta não aguentasse.

Voltamos à sala de estar e as batidas pararam. Apenas a suava toque na janela permaneceu. Nenhum de nós dormimos naquela noite.

A batida voltou por volta das 7 horas. É nessa hora que o sol nasce aqui. Esperamos mais duas horas antes de meu pai abrir as cortinas de uma janela. Ele nos vez voltar para o quarto dos meus pais primeiro. Eu o ouvi abrir a porta e voltar.

- Está tudo bem – ele nos disse – Acabou.

Os pais de Holden voltaram na hora do almoço. Minha mãe e meu pai levaram Holden até a casa dele e todos ficaram lá por algum tempo. Lola e eu assistimos pela janela. Ela ficou comigo o dia inteiro, do meu lado, às vezes segurando minha mão. Quando meus pais voltaram, pareciam sombrios, mas não nos contaram o que disseram à família de Holden. Era um domingo, então todos passamos o dia inteiro juntos, pedimos pizza e assistimos filmes.

Naquela noite, todos dormiram no meu quarto, Lola e minha mãe na cama comigo, e meu pai em uma cadeira que ele havia puxado. Não houve batidas naquela noite ou nenhuma noite desde então.

Não vimos muito Holden ou os pais dele durante o resto da semana, mas na quinta-feira tinha um caminhão de mudança na garagem. Lola e eu assistimos a mudança depois de uma tarde de escola. O que mais me perturba, foi o quão cansados Holden e seus pais pareciam. Todos os três tinham a mesma palidez, bocas sombrias e olhos sem luz. Mesmo do outro lado da rua, eu podia dizer que algo estava muito errado. Holden e sua família se mudaram antes do por do sol.

Lembro-me do que o comitê de boas vindas disse a meus pais quando nos mudamos. Nem todo mundo que olha o assobiador morre, mas mesmo que vivam, a luz sai da vida deles para o resto de suas vidas e é cheio de infortúnio. Um milhão de pequenas tragédias.

Acho que os pais de Holden devem ter olhado, para conforta-lo se não acreditassem ou compartilharam do fardo se acreditavam. Observo Lola, feliz, jovem e viva e me pergunto se eu tivesse sido mais lento, se ela olhasse para janela naquela noite... Eu também teria olhado? Para conforta-la? Compartilhar esse fardo? Fico feliz por não precisar descobrir.

Faz dois meses desde a noite em que Holden ficou aqui. Ainda moramos naquela casa, naquele bairro. Ainda ouvimos nosso assobiado passando todas as noites. As bênçãos, a sorte, as coisas boas daqui são demais para deixar este lugar. Mas somos cuidadosos. Não chamamos mais amigos para passar a noite aqui. E meu pai esconde muito bem a chave das persianas. Não que eu tenha interesse em procurar. Algumas coisas você não precisa ver.

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